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sábado, 30 de junho de 2012

Urbano



 Eis que ela decidiu procurar uma cartomante. Talvez tenha sido um erro (na verdade o foi) mas ela não sofreu consequência alguma. De qualquer forma, ela achou “urbanamente poético”: Telefonou para o número colado nos postes, marcou a consulta e se sentiu num conto do Machado de Assis. Mas sem aquela tragédia toda.
“Trago o amor de volta em 2 dias”. Era um slogan lindo, pensou ela. Prático, atraente e tão... urbanamente poético. Chegou a terça. Ela pegou o ônibus para ir à tão mística mulher.
Mas, quando entrou no transporte, percebeu o erro. Não que tivesse pegado o ônibus errado. É que a cartomante não poderia ajudá-la. Não poderia trazer de volta um amor que nunca mesmo veio.
Outra coisa que ela percebeu foi que isso não a machucava. Não mais. O tempo é realmente um remédio versátil. Cura o tudo. Cura até mesmo as feridas que ele mesmo causa. Esquisito. E urbanamente poético também.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Aos 45



Caro ex-quase-amor,
Estou mais uma vez aqui falando pra você que não sabe quem é, e provavelmente nem vai ler isso. Ou talvez nem tenha a oportunidade, porque essa talvez entre para a pasta das “jamais entregar”. Enfim, isso não importa. Também não sei o que realmente importa.
Mais uma coisa que não sei é se um dia vou parar de sempre te ver como um possível amor. Palavrinha forte, essa, né? E clichê. Hoje em dia quem a diz com seriedade não precisa ser levado a sério. Babaquices a parte, eu falei sério. Eu gastei muitos sonhos bonitos com você. Eu não lamento isso, mas também não aplaudo. Já disse que você não a teve a menor parcela de culpa. Eu sei que fiz tudo isso sozinha.
Acho que ainda vou ter muita gente com a qual sonhar e tudo, e tal. Mas também acho que quando eu tiver com uns 45 anos, vamos nos encontrar e vou sentir certas cócegas no coração. Vai vir todo aquele borbulho de juventude (a qual vivo agora parecendo ter 87 anos). Vai vir  aquela pergunta maldita: “E se...?” O pior é que, nesse caso, ela vem com a resposta: Sim. A gente daria certo. A gente seria um “nós” bonito. Mesmo que só por uns meses. Só por um segundo.  Não sei pra você, mas isso bastaria pra mim.
De qualquer forma, juro que é a última. A última carta que te escrevo e não te entrego.
Te vejo no nosso encontro aos 45 anos.
Com quase-amor,
Eu.